Época das vindimas prestes a arrancar com expectativas de melhorias em relação a 2017

Época das vindimas prestes a arrancar com expectativas de melhorias em relação a 2017

Época das vindimas prestes a arrancar com expectativas de melhorias em relação a 2017

A época das vindimas está prestes a arrancar em São Miguel e a previsão, apesar de não haver ainda certezas, é de que a apanha da uva e a produção de vinho de cheiro será “ligeiramente melhor” do que no ano passado. Quem o diz é Nuno Rainha, filho do proprietário e produtor de vinho em Vila Franca do Campo, Manuel Rainha, empresa com atividade há mais de 30 anos. “No ano passado, recebemos cerca de 80 toneladas de uva dos produtores e este ano podemos chegar perto das 100 toneladas”, revela, em declarações ao Diário dos Açores, considerando que, em comparação com 2017, este ano poderá haver uma “pequena melhoria” na produção. O número, salienta, é apenas uma estimativa, feita a partir do que os produtores dizem ter nas suas terras, uma vez que a sua adega ainda não começou a receber uvas. Só no final de Setembro será possível fazer contas e o balanço da produção. “Os produtores em geral dizem-nos que os cachos são maiores e que há mais quantidade de uvas nas suas terras, o que leva a crer que a produção este ano é maior, mas há fenómenos climatéricos isolados que surgem em Setembro (chuvas intensas, ventos fortes) e pragas que podem colocar o trabalho de um ano em risco. Portanto, é complicado avançar números certos”, explica ao nosso jornal. Nuno Rainha reitera, no entanto, que as expectativas são boas. “Alguns produtores dizem que têm o dobro das uvas para apanhar, outros dizem que têm mais ou menos o mesmo que o ano passado. Além disso, do ponto de vista climático, tivemos um ano favorável para as vinhas, melhor do que outros anos. Por isso, o mínimo que estamos à espera é que este ano seja melhor do que o ano passado”, diz. Desinvestimento ao longo dos anos na “uva de cheiro” Segundo dados do ano 2014, a empresa de Manuel Rainha contou com uma produção de 152 mil quilos de uvas, quando em 2015 foi de 133 mil quilos. Em 2016 a produção voltou a descer para cerca de 100 toneladas e, no ano passado, para as 80 toneladas. Uma quebra que se deve a um “desinvestimento dos produtores”. “(Trata-se de) Um desinvestimento contínuo, que se arrasta há mais de 10 anos, nesta cultura, pois não há apoios. Aliás, há todo um conjunto de circunstâncias, como a especulação imobiliária, aposta em culturas subsidiadas como a lavoura ou a produção de banana que levaram à situação actual”, afirma. Já numa entrevista dada ao Diário dos Açores, em 2016, Nuno Rainha mencionava o mesmo assunto, enumerando os vários factores que levaram à quebra da produção da cultura desta uva, ainda muito presente no concelho de Vila Franca do Campo. “O primeiro factor tem a ver com a propaganda do Governo Regional, no final da década de 90, para a extinção da uva de cheiro. Esta propaganda, com motivos políticos, foi apoiada pela comunidade europeia e pretendia a extinção das vinhas de casta americana, a ‘vitis labrusca’. Esta casta, do ponto de vista dos europeus, é considerada uma má casta, dá vinho de má qualidade e foi colocada na lista negra das castas da Europa. Há um decreto de lei regional que proíbe a exportação deste vinho para a Europa, pelo que só pode ser consumido na Região. Isto, obviamente, limita muito a nossa área de acção. Se só pode ser consumido aqui, não conseguimos ganhar visibilidade fora da região”, considerava, na altura. Um segundo factor, continuou, “é o facto de o vinho de cheiro ter sido sempre conotado como o vinho do povo, o vinho dos pobres. A partir do momento que entram no mercado marcas nacionais e empresas com uma força comercial muito maior, com formatos e designs muito mais apelativos e até com preços mais competitivos, as pessoas tendem a escolher o produto nacional, nem que seja pela experiência”. “Para além disso, houve nos últimos 10 ou 12 anos muita especulação imobiliária sobre os terrenos onde estavam as vinhas. As vinhas passaram a ser cimento armado, dando lugar a blocos de apartamentos, hipermercados. Aquela que era a melhor zona de cultivo de vinha na zona de Vila Franca do Campo é, actualmente, um parque habitacional. Refiro-me à zona do Aldeamento do Ilhéu e do hipermercado Solmar. Em toda aquela zona havia vinhas. Mesmo a encosta localizada atrás do parque industrial de Vila Franca do Campo eram terrenos com vinhas”, apontou. Manuel Rainha recordou também os seus tempos áureos da produção de vinho de cheiro: “nós já chegamos a produzir quase um milhão de litros  de vinho nesta adega, em 2001, cerca de 1800 e tal pipas de vinho, mas neste momento [2016] vamos produzir cerca de 70 mil litros. É uma queda brutal”, sublinhou. Dois anos depois, a situação continua a mesma, uma vez que “a cultura desta uva é completamente ignorada pela Comunidade Europeia”. “Ainda esta semana, mandámos uma palete de vinho abafado, produzido com uva de cheiro para os Estados Unidos… sendo que o cliente tem elevadas expectativas para o mesmo porque entende tratar-se de um produto único e com características muito distintas comparativamente ao que se encontra no mercado. Como é possível termos que procurar mercados tão distantes para conseguir colocar o nosso produto pois não podemos enviar para Portugal Continental e para a Europa. É essa a nossa realidade e o quão limitados estamos para trabalhar esta casta (da espécie americana ‘vitis labrusca’)”, lamenta. Aumento do consumo pelos turistas não abrange o vinho de cheiro Apesar de ter existido, nestes últimos anos, um incremento significativo do número de turistas na ilha de São Miguel, e consequentemente um aumento do consumo dos produtos regionais, Nuno Rainha alerta que o vinho de cheiro continua a não ser valorizado. “Não será, actualmente, o enfoque no turismo que faz valorizar a cultura”, considera. “Não se pode pensar que, pelo facto de estarem mais pessoas a consumir na restauração e na hotelaria de São Miguel, haverá mais procura pelo vinho de cheiro, porque se trata de um produto particular”, refere. “Nós, produtores locais, ficamos apenas com um pequeno nicho de mercado, onde vamos colocando o nosso produto e fazendo o nosso trabalho. A realidade do vinho de cheiro que produzimos aqui é muito distante de outros vinhos regionais, no Pico, por exemplo”, salienta. No que toca a apoios, precisamente por haver a “intransigência” da União Europeia face à casta ‘vitis labrusca’, não existem: “O acontece é que, por muito que procuremos ajuda, esbarramos sempre nas limitações criadas pela União Europeia para estas castas”, frisa o produtor. “Há uma propaganda nos Açores à volta dos vinhos que são produzidos com castas certificadas na Região, como no Pico, mas já a nossa casta não pode ser certificada, o que não nos permite ter distinção ou valorização pelo facto do produto ser produzido na região. Há o reconhecimento de que há muita produção desta uva e deste vinho, só que as entidades regionais e do sector vitivinícola pouco ou nada poderão fazer...”, explicou. Questionado se, um dia, a produção do vinho de cheiro poderá vir a acabar, Nuno Rainha diz que não, “mas provavelmente, ao longo dos anos, poderá tornar-se cada vez mais residual”. O que irá acontecer no futuro, segundo diz, é que a indústria de produção deste vinho se irá “cansar de trabalhar este produto”. “Só alguns pequenos operadores irão talvez produzi-lo para os amigos ou para a famílias e pouco mais”, admite. “Talvez até se venha a tornar uma espécie de ‘fruto proibido’: o produto hoje não vale muito, mas daqui a dez anos, por ser muito pouco, poderá vir a ser mais procurado e valer mais”. Alexandra Narciso no Correio dos Açores    

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Data: 24/08/2018
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